Que era para ninguém esquecer: era Guerra.
Foi até a bilheteria da casa de shows. Havia uma fila, tomou-a. Voltou para casa radiante, finalmente iria a um show que valesse a pena. "Muita gente vai desejar ter esta oportunidade, mas jamais terão. O tempo não permitirá."
Atendeu o telefone enquanto trocava a bolsa de braço, apoiando-o entre o ombro e a face:
-Alô?
-Não esqueceu que a gente marcou hoje a noite né?
-(...) Claro que não! Pode deixar, estarei lá!
Agora precisava urgentemente de um presente. Lembrou-se que não longe havia uma livraria e dava para voltar ao trabalho apenas um pouco atrasada.
Dia do concerto mais esperado do ano, da década, do século! E ali ele estava, absorto e descrente. Esqueceu-se, por uma noite, tudo o que frustrara-o até então. Sentiu que o vazio em si, talvez, algum dia poderia ser preenchido. Tinha quase tudo que desejava, e tão irônico quanto nos romances que lia, faltava-lhe alguém para amar.
Enquanto dirigia-se ao caixa, um DVD chamou-lhe a atenção. Resolveu levar para casa. Era de um show antigo, sobre a cômoda ficou por algumas semanas e em um certo feriado, finalmente saiu da capa e concretizou-se em imagens.
Estava na primeira fila.
Assistiu atentamente enquanto comia pipoca.
De terno e gravata, desejava um amor tal qual o destas músicas.
Estava de moletom e envolvida em duas cobertas. Sabia que todos aqueles poemas musicalizados só falavam de dor. Da dor que um amor pode causar, e é por isso que não se permitia sentir nada por ninguém. Preferia os amores platônicos. Tanto que decidiu amar aquele jovem que apareceu por uma fração de segundo na tela do vídeo.
Ele sabia como seria a mulher perfeita para ele.
Ela já tinha perdido as contas de o quanto desejou um amor que não tivesse como brinde o sofrimento.
Vontades se tornam realidade.
Ele a amaria e juraria jamais magoá-la.
Ela o completaria e tornaria real todos os seus sonhos.
...
É uma pena não se conhecerem.